Mitos Eleitorais e Programáticos
sobre Mulheres Negras
► Mitos eleitorais
É possível falar de um programa unificado de mulheres negras? Acreditamos que ao apresentarmos esses mitos também seja apresentado nossa diversidade. Dificilmente podemos ser enquadradas em programas únicos, mas com certeza o antirracismo e o antissexismo são agendas centrais, assim como o compromisso com a democracia. Posicionar-se contra mitos eleitorais e programáticos permite uma plena competitividade entre candidatos e reduz a chance de alguns projetos fracassarem desde a largada. Além dos mitos programáticos, há os mitos eleitorais que são frequentemente alimentados por haters e fake news.
Esses são alguns deles:
1- “Mulheres negras só querem ‘lacrar’”;
2- “Há uma relação direta entre mulheres negras e religiões de matriz africana”;
3- “Mulheres negras só estão se candidatando porque um homem branco deixou”;
4- “Mulheres negras são sempre candidatas de esquerda”;
5- “Mulheres negras sempre defendem bandidos”.► Mitos programáticos
Mulheres negras sempre ocuparam o lugar de civilizadoras da sociedade. Não devemos nos deixar iludir pela deterioração pública de nossa imagem alimentada pelo racismo, sexismo e classismo. Em leituras conservadoras e mais progressistas que buscam explicar o Brasil, no discurso masculino que imprime o silêncio feminino, lá estamos nós ocupando lugares de destaque na educação e sustento da sociedade e da família a despeito da nossa situação em regimes de exploração.
Do lado conservador, por exemplo, no caso das teorias que alimentaram o mito da democracia racial, as mulheres negras aparecem como as primeiras educadoras e cuidadoras. Na obra de Gilberto Freyre, seriam as negras escravizadas as responsáveis por construírem e transmitirem o nosso idioma, o português brasileiro cravejado de elementos linguísticos africanos. Lélia González também identificou esse fenômeno e tratou de chamá-lo de pretuguês, o jeito dos pretos falarem português que foi ensinado a todo brasileiro. Do lado mais progressista, como no caso de Florestan Fernandes, somos igualmente apresentadas como artífices da sobrevivência da comunidade negra, as que tinham mais sucesso na busca por emprego e, portanto, fonte de sustento familiar, porém apresentada pelo próprio autor como “heroína muda”.
Organizar a fala de mulheres negras é uma tarefa complexa em muitos sentidos. Um deles pela própria invisibilidade social o que torna difícil saber “onde procurar” e essa invisibilidade alimenta o mito da inexistência de nossas vozes e participações.
Mas nossos passos vêm de longe! E entendemos que organizar nossas falas, organiza também nossa presença em todos os espaços da sociedade brasileira, inclusive, na política institucional e projeta imagens positivas ligadas à nossa estética e ao nosso jeito de estar no mundo.
Dito isso apresentamos alguns mitos programáticos que entendemos serem empecilhos para o avanço da democracia.
1 - “Mulheres negras são identitárias”;
2- “Mulheres negras não sabem construir poder”;
3- “Os movimentos de mulheres e homens negros do Brasil, em sua maioria, não acreditam na política institucional”;