Construímos uma história coletiva: mulheres negras
e direitos LGBTQIA+
O fato da primeira pessoa transgênero deputada no Brasil ser uma mulher negra (Érica Malunguinho) não é uma coincidência, assim como a escolha de Marsha P. Jhonson (estadunidense) como símbolo de luta e resistência da comunidade LGBTQIA + também não. Pessoas negras têm ocupado, historicamente, posições centrais na construção de um mundo melhor através de diversas frentes de militância e trabalho.
No mundo acadêmico, aliadas às mulheres cisgênero que encabeceram o movimento negro e o movimento feminista brasileiros, diversas frentes de pesquisa desenvolveram-se afim de desmistificar e problematizar identidades sexuais, raciais e de gênero demonstrando como diversas sociedades e culturas tanto as originárias das Américas, como as africanas, encararam esses temas de forma absolutamente distinta, colocando em ênfase como o mundo contemporâneo pode ser construído à luz de referências mais humanizadoras.
O pioneirismo do movimento de mulheres negras brasileiras ao perceberem pela sua experiência de vida e pelo trabalho intelectual como a teia social se articula de formas variadas, gerando pontos de tensão e experiências de opressão a depender do lugar social que foi atribuído a cada identidade, tem produzido espaços mais inclusivos dentro e fora da política institucional e tem ampliado o debate público sobre o bem viver.
Questões de classe, raça e sexualidade além de serem fenômenos estruturantes da sociedade, perpassam a vida de mulheres negras, de maneira específica em cada território, mas também em todos os lugares do globo graças ao racismo estrutural. Com a capacidade crítica dessas mulheres, o simplismo de ideias ao redor de categorias muito idealizadas, como a de ser mulher, tem sido debatida e, assim, propiciado a politização de identidades na sua diversidade em busca de direitos.
No Estamos Prontas estamos sintonizadas com a ideia de que a dignidade humana não é negociável, nesse sentido as lideranças de Minas Gerais e Amazonas constituem-se coletivamente. O Mulheres Negras Sim (MG) conta com Lauana, Tainá e Juhlia, essa última uma mulher trans. Uma candidatura construída com o Círculo Palmarino, a Juventude Manifesta, o MTL - Movimento Terra Trabalho e Liberdade e o movimento Mulheres Negras Decidem. Já a Bancada Amazônida (AM) é composta por seis mulheres, sendo elas: Francy Júnior (mulher negra lésbica), Luzanira Varela, Mariana Ferreira, Marinete Almeida (indígena Ye’pa Marsho), Florismar e Elisiane Andrade.
É sintomático que, assim como Érica Malunguinho e Érica Hilton (em seu primeiro mandato), essas mulheres de sexualidade e gênero dissidentes tenham escolhido candidaturas coletivas para estar na vida pública, sendo pessoas cuja violência as atravessa de forma ímpar. É importante nomear e dar visibilidade não apenas à luta, mas também às suas existências como um farol para dias melhores que virão.