Acesso à saúde e a incidência política de mulheres negras
No artigo Saúde Pública e Mulheres Negras em Política em nosso livro A Radical imaginação política das mulheres negras brasileiras, Fabiana Pinto demonstra muito bem como a Reforma Sanitária Brasileira e o SUS tornaram-se o que são hoje, uma referência internacional, graças à atuação de mulheres negras nos parlamentos e fora deles. Seja construindo suas ferramentas, seja denunciando abusos e encampando disputas para a promoção da equidade e qualidade de acessos.
Trazendo a memória de Laélia de Alcântara, médica e ex-secretária de saúde do Acre, e seu trabalho como senadora, evidenciando os problemas sanitários específicos das regiões norte e nordeste a autora contextualiza importantes marcos na luta pela saúde reprodutiva da mulher com a CPMI para investigar a esterilização em massa de mulheres negras e nordestinas ocorridas no país instaurada por Benedita da Silva em 1991.
É importante lembrar nossa presença no ato de formulação e aprovação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), no CNS (Conselho Nacional de Saúde), em 2006. A partir da ação das conselheiras Fernanda Lopes e Jurema Werneck, ambas da Articulação de Mulheres Negras (AMNB) e Maria José Pereira dos Santos, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), foi possível pensar na ampliação dos direitos humanos que culminaram na publicação Política Nacional de Saúde da População Negra, através da Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009, pelo Ministério da Saúde.
Jurema Werneck é médica, mestra em engenharia de produção e doutora em comunicação e cultura. Fundadora da ONG Crioula (em 1992), atualmente trabalha como diretora-executiva da Anistia Internacional. Formada em 1986, vimos seu rosto estampado nos jornais no ano de 2020 prestando depoimento à CPI da Covid.
Jurema apresentou um estudo demonstrando aos senadores que cerca de 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas se o Governo Federal tivesse adotado no primeiro momento as medidas de distanciamento social, restrição a aglomerações e fechamento de escolas e do comércio. Este tipo de atuação não é uma novidade e não é exclusividade do atual momento político, desde sempre estivemos interessadas na gestão pública da saúde e educação no Brasil.
No Paraná, nossa liderança da Estamos Prontas, Juliana Mittelbach, é enfermeira e doutoranda em Saúde Pública na Fiocruz, estudando violência obstétrica. Fez parte do Sindicato dos Profissionais de Saúde e foi conselheira municipal de saúde. Juliana tem uma ação consistente de fortalecimento do SUS e da carreira de enfermagem no país.
Mariana Almada (DF), mesmo formada em artes visuais e teologia e professora há 29 anos, atuando inclusive como assessora de educação da Câmara Legislativa do Distrito Federal, possui uma ação política polivalente, como a maioria de nossas lideranças. Tendo uma abordagem centrada na saúde mental, sua prática nas escolas em defesa de uma cultura de paz, sobre o papel das escolas na luta contra o abuso e exploração sexual infantil. Com formação em psicanálise, durante a pandemia atuou auxiliando jovens a passarem por momentos de estresse, controle de ansiedade, relacionamentos, alinhada ao conceito moderno da ONU de autocuidado definido como a capacidade individual de promover e manter a saúde, prevenir e lidar com doenças com ou sem o apoio de um profissional.
Saúde é uma prioridade de nossas lideranças !